Celina de Amorim Guimarães nasceu em
Natal, a 15 de novembro de 1890. Era filha de José Eustáquio de Amorim
Guimarães e Eliza de Amorim Guimarães.
Estudou na Escola Normal de Natal,
onde concluiu o curso de formação de professores. E foi nessa mesma escola que
conheceu aquele que seria o seu companheiro por toda a vida: Elyseu de Oliveira
Viana, um jovem estudante vindo de Pirpirituba/PB, com quem se casou em
dezembro de 1911.
Em janeiro de 1912, foi designada
para ensinar a cadeira de Ensino Misto Infantil do Grupo Escolar Tomás Araújo,
em Acari, juntamente com o seu marido, onde permaneceram até 1913.
Em 13 de janeiro de 1914, atendendo
convite do dr. Manuel Dantas, então diretor de Instrução Pública do Estado do
Rio Grande do Norte, foi transferida para Mossoró, onde assumiu a cadeira
infantil do Grupo Escolar 30 de Setembro. Como educadora, inovou as técnicas
pedagógicas da época, abolindo métodos grosseiros, como o uso da palmatória
para castigo físico dos alunos que não aprendiam a lição, buscando a participação
do alunato. Era uma mulher muito dinâmica, inteligente e assídua no trabalho.
Essas qualidades fizeram que ela fosse merecedora de elogio individual
registrado no relatório elaborado em setembro de 1914 pelo inspetor de ensino,
professor Anfilóquio Câmara, e inscrito no Livro de Registro Profissional.
Para ilustrar o perfil da mulher
Celina Guimarães, pode-se citar um exemplo: certo dia, um grupo de rapazes,
alunos do Grupo Escolar 30 de Setembro, no qual ela e o marido ensinavam, foram
procurá-la querendo aprender como se praticava o esporte que se chamava
futebol. E Celina aceitou o desafio. Foi assim que numa certa manhã dona Celina
apareceu na Praça do Moinho, ou da Escola Normal, de livro na mão e apito na
boca, cercada de meninos desejosos de aprender o novo esporte. Decidida, ela
mandou que colocassem duas pedras, numa distância de quatro metros de cada
lado, delimitando os goals, e passou a dividir a garotada: onze para cada lado.
Por falta de uniformes, decidiu que um time jogaria com camisas e o outro sem
camisas para diferenciar. A bola de couro havia sido comprada pelos pais da
garotada.
Acontece que a regra de futebol
daquela época era toda em inglês. Assim sendo, além de explicar como se jogava
e como se marcava o gol, tinha ainda de explicar o que era off-side,
corner-kick, foul, reefery, fire-kick e field. Mostrou as posições de cada
jogador, o que era back, keeper, half, center-half, forwards, 1° half-team, 2°
half-team, team etc., ensinou o que cabia ao goleiro fazer dentro de sua barra,
a posição certa dos backs e o papel do centro-médio que teria de jogar no meio
do campo acompanhando a linha dos dianteiros. Ensinou como os pontas (direito e
esquerdo) deveriam atuar, os meias e o center-forward, que seria o homem-tanque
da ofensiva, desbravando as defesas e marcando muitos gols.
Dadas as explicações iniciais, pôs a
bola no centro do campo, colocou cada um na sua posição e acionou o apito. A
princípio, a dificuldade era grande por parte da garotada, que teimava em botar
a mão na bola. Foi preciso muita paciência da professora e muito sopro no apito
para que os ensinamentos básicos fossem seguidos.
Essa pequena história serve para
mostrar o dinamismo de Celina Guimarães Viana, uma mulher muito além do seu
tempo. Provavelmente, foi ela a primeira mulher no mundo a entrar num campo de
futebol como treinadora de rapazes. É esse, pois, o perfil da primeira eleitora
da América do Sul.
FONTE - JORNAL DE FATO
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